Diário
quinta-feira 14 de julho, 2016
Não foi amor à primeira vista…
Não foi amor à primeira vista…
A timidez, a vergonha, o medo da rejeição e de não ser aceite, o receio de magoar por não corresponder às expectativas… uma constante luta interna que levou muitas vezes a profundas tristezas e a uma constante insatisfação… enquanto uma voz profunda interna dizia Não, aquela que se ouvia, dizia Sim… Sim ao quê? Ao foi que foi ensinado, ao socialmente correcto, às crenças e aos conceitos tão bem tatuados na psique…
Sim, estou a falar da pessoa mais importante da minha vida… Toda eu e não apenas uma parte de mim… Eu completa e inteira!
Não foi fácil apaixonar-me por mim… Muitos conflitos comigo mesma me levaram muitas vezes a apaixonar-me por um ideal inalcançável e fora da realidade ou por um príncipe que nunca existiu, senão na minha imaginação. Essa necessidade constante de encontrar algo que me completasse ou que preenchesse aquele vazio…
Quem conhece o meu percurso reconhece bem o quanto foi importante eu aprender a ser honesta comigo mesma, ser íntegra com os meus sentimentos, ser autêntica com o pulsar do meu coração para, sem medo, dizer muitas vezes Não. E essa autenticidade só floresceu quando a minha relação comigo mesma começou a ficar clara, fluida, amorosa, compassiva… E foi assim que aprendi que sem me amar a mim mesma de forma completa, aceitando-me e abraçando-me inteiramente, nunca poderia realmente amar ninguém ou mesmo relacionar-me com autenticidade, com os outros ou com a vida… E como agora tem lógica! Enquanto não me sentir completa, inteira, como posso amar ou relacionar-me sem medo? Como posso apaixonar-me pela vida? Eu sou a vida!
A menina tímida, cheia de vergonha, muito reservada, sempre no seu mundo encantado imaginário, com pouca auto-estima, com carências vindas da sua pouca confiança, sempre com medo de magoar os outros que amava e que muitas vezes, mergulhada em estados exageradamente emocionais, a levavam a vitimizar-se; começa a rebelar-se na sua juventude, ainda não sabendo que movida pela raiva, estava a suprimir a sua energia mais poderosa interna… Dizia muitas vezes Não, um Não de raiva, para contrariar, para ser diferente, para não seguir os padrões normais… Um Não que vinha de um estado de insatisfação interno, aquilo a que eu chamo de um nervosinho residual, aquela irritação permanente…
E estes padrões, estes dois extremos, ainda se repetiram por muitos anos, talvez com menos intensidade consoante crescia a maturidade… E agora sei que até aos 29 anos não atingimos a nossa maturidade espiritual… e foi mesmo com essa idade que comecei a dizer Não, já não movida pela raiva, mas sim pela voz do coração. Ainda com medos, com pouca confiança em mim, mas acreditando que não tinha outra alternativa…
Desisti de um emprego estável, de uma carreira profissional bem vista pela sociedade… Foi algo tão raro naquela época que poucos anos depois foi motivo para uma curta reportagem na RTP1.
E ao longo destes quase 10 anos, foram muitos os gritos que dei ao nível profissional… ao ponto de agora ser muito fácil e natural!
Nessa mesma época do meu primeiro grande grito sacrifiquei constituir uma família para me dedicar ao que amava fazer e à minha prática pessoal… Numa relação amorosa e de companheirismo muito bela de 7 anos, viajei muito, mesmo muito, subi as montanhas mais altas do mundo, vivi imensas aventuras abrindo-me a novas culturas, novas formas de ver a realidade. E cada vez mais apaixonada por práticas ancestrais, sentia-me uma yoguini já bastante confiante e aberta… uma guerreira!
Contudo, no inicio de 2013 dou outro grito enorme e, seguindo a minha autenticidade, termino essa relação amorosa… não por falta de amor, não por falta de respeito, mas porque senti que precisava de seguir outras escolhas, outros caminhos… Como foi difícil esse grito… Aquele vazio que estava tão bem escondido, voltou à superfície… noutro formato, noutro registo e foram precisos estes últimos três anos para começar a preenchê-lo… Como? Nutrindo-me, aceitando-me, não tendo medo de ver de frente os meus medos, para gradualmente começar a sorrir para esses medos… Nestes últimos três anos cruzaram-se no meu caminho pessoas, homens e mulheres, que me vieram mostrar aquilo que ainda precisava muito de trabalhar: as falsas crenças de mim mesma; os meus medos mais profundos e, muito importante, o quanto ainda não era autêntica comigo mesma… Mas de todo este profundo trabalho, com ajuda de práticas, de tomada de consciência, de algum recolhimento, aprendi o que é e onde está o meu centro de poder… esse alinhamento que me permite ser autêntica e estabelecer relações autênticas!
E ao estar apaixonada comigo mesma, como é possível não estar apaixonada pela vida? Tudo na vida… outras mulheres, mas também homens que estão em sintonia comigo… com os prazeres mais básicos, como deliciar-me com uma saborosa comida e bebida ou uma simples respiração que me faz abrir à beleza e simplicidade deste momento presente… com a natureza e todos os seus encantos… com o meu corpo ao dançar, ao caminhar à beira mar, ao abraçar e beijar com paixão, ao fazer amor com rendição… mas também naqueles momentos em que estou sozinha comigo mesma a não fazer nada e simplesmente repouso a minha consciência no espaço do meu coração… e sorrio, sim muitas vezes sem motivo, apenas pelo conforto em não sentir essa luta, em não sentir aquele nervosismo latente… sorrio a essa energia que emerge nesse espaço, à vida!
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