Encontrei os ensinamentos de mindfulness muito cedo nesta vida, ainda sem saber que se chamava mindfulness.
Apesar de mindfulness já estar bastante ocidentalizado, procurei sempre receber estas pérolas da fonte. O meu primeiro contacto foi com o Budismo Zen através do Mestre Hôgen Daidô aos meus 16 anos.
"A natureza original é sem religião.
Todos somos apenas um penetrante sopro do céu e da terra."
Hôgen Daidô
O sentar e não fazer nada do zazen era-me extremamente difícil e, apesar da filosofia me fascinar, a prática não me assentava assim tão bem. Preferia praticar yoga e, se possível, com um pouco de movimento.
Anos mais tarde, perto dos 20 anos, mindfulness e a meditação entram na minha vida através do budismo tibetano com a monja Tsering. Algo ressoava em mim, como memórias antigas que desejavam ser recordadas. Mas, apesar da imensa curiosidade e familiaridade, a prática era-me aborrecida e não fazia pulsar o meu coração. E mesmo em alguns ensinamentos, recordo-me de adormecer ao som das palavras do dharma.
A partir dos 25 anos começo a mergulhar profundamente no yoga e meditação na Escola de Yoga Integral de Portugal. Torno-me professora e master em vários estilos. E durante alguns anos fui formadora de professores.
Aos 29 anos entra na minha vida um mestre tibetano, Tulku Lobsang, que, com o seu carácter revolucionário e inovador, me fez apaixonar pela meditação tibetana e mindfulness. Durante 10 anos estudei muito sobre mente e emoções, mindfulness tradicional, psicologia e meditação tibetana. Mas também pratiquei, de forma muito metódica e apaixonada, muita meditação de amor e compaixão, e meditação contemplativa ou rigpa.
Enquanto treinava a minha mente e o meu coração, também aprofundei o yoga tibetano, treinando profundamente todos os aspetos do meu corpo: canais (tsa), energia (lung) e essências (tigle).
Com anos de muita devoção e dedicação, aos 33 anos ativei a chama sagrada do meu útero com práticas de energéticas de inner fire e bliss. Esta ativação jamais teria sido possível sem muita dedicação à meditação focada num ponto – mindfulness.
A partir dos 36 anos começam a emergir muitas questões, bastante pertinentes, relativamente à forma como a filosofia e práticas eram ensinadas. Questionei o padrão de pensamento tão masculino, linear, demasiado mental... além de outras questões ainda mais profundas, sobre emoções e o seu papel nesta vida, a nossa existência neste plano terreno e mesmo o papel de mestre-aluno.
Não acredito que Buda era budista, nem Jesus era cristão. Na minha visão qualquer que seja a religião ou sistema filosófico organizado deve ser questionado... em especial se cresceu sob uma grande influência patriarcal.
As respostas fui encontra-las a guias espirituais e professoras mulheres, como Pema Chodron e Tsultrim Alionne. Essas respostas fizeram-me continuar a busca e mergulhar fundo no sagrado feminino, onde agora nado com muita satisfação.
Neste momento, com 40 anos, continuo apaixonada por meditação e mindfulness. Mas com outra consciência, com mais sabedoria. Para mim sabedoria é a nossa capacidade de integrar qualquer prática ou ensinamento na própria vida, nesta existência. Dessa integração nasce a sabedoria.
Mindfulness é a base desta existência. Sem mindfulness não há consciência. Sem mindfulness não há amor.
São ensinamentos e práticas valiosas para o dia a dia, que já fazem parte do meu dia a dia e do meu ser, que são chaves para levar a vida com mais leveza e plenitude.
Mindfulness é muito mais que sentar e meditar... Mindfulness é começar a viver com outros olhos... é trazer a espiritualidade a este plano mais terreno... Ao terreno das emoções, problemas, obstáculos... Ao terreno de ser filha, mulher, amante, mãe... Ao terreno da vida mais crua e real!
Mindfulness ensinou-me que mais importante que fugir desta realidade é estar preparada para a abraçar totalmente! Mindfulness prepara-me todos os dias... e todos os dias aprendo com Mindfulness!
Foi neste sentido, integral e profundo, que surgiu o meu curso online de Mindfulness em 5 Passos.
Um curso de base, as raizes para a vida. Destina-se a quem quer começar a viver com mais presença, consciência, quietude, amorosidade e plenitude.
De seguida apresento quais são, para mim, as principais chaves de mindfulness:
Chave nº1:
:: A mente de criança ::
Esta energia contém imensas qualidades e diferentes aspetos. Tais como: não-julgamento; inocência original; curiosidade natural; não levar a vida tão a sério; mente de principiante.
Com a mente de criança passamos a viver com mais magia e alegria de viver. Cada momento é único e especial.
Chave nº 2:
:: Atenção versus Consciência ::
Estes dois aspectos inerentes a mindfulness, bem treinados, permitem-nos sair das preocupações; estar mais no aqui e agora; cultivar o enraizamento; aumentar a capacidade de contemplar e expandir a consciência; repousar no silêncio da mente e reconhecer a sua verdadeira natureza.
Chave nº 3:
:: Meditar é relaxar ::
Apesar de muitos professores de meditação insistirem que meditar é controlar os pensamentos e treinar a concentração, pelo contrário meditar é relaxar com consciência. É sair da energia do esforço e entrar na energia do não-esforço. Saber equilibrar os dois aspectos anteriores – atenção e consciência – é a porta de entrada para esse espaço de quietude e plenitude.
Chave nº 4:
:: Não há objectivo ::
Não há luta de chegar a algum sitio que esteja além do aqui-agora. Não há controlo de qualquer pensamento ou emoção.
Mas há uma intenção, completamente fora da expectativa. Logo fora da competição ou comparação.
"Não há caminho para a felicidade, a felicidade é o caminho."
Buda
Chave nº 5:
:: Aceitar versus Mudar ::
O primeiro passo é a aceitação. O segundo passo é usar o poder de decisão e o poder de escolha. Para ambas as situações precisamos de estar conscientes.
É assim que mindfulness nos ajuda a sair de maus hábitos, a cortar padrões negativos e a fechar ciclos.
Chave nº 6:
:: Confiar ::
Aprendemos a confiar na sabedoria da vida. E em nós mesmos. Descobrimos que existe um sábio e sábia dentro de cada um de nós. Essa bússola que nos guia no caminho da vida. Essa luz que é a nossa intuição e sabedoria mais profunda.
Chave nº 7:
:: Integridade ::
Ao responsabilizarmo-nos pela nossa própria vida, responsabilizamo-nos pelas nossas necessidades, fronteiras e desejos. Aprendemos a reconhecer o que sentimos profundamente e a responder com honestidade à verdade do nosso coração. A partir dum espaço de integridade, aprendemos a comunicar com autenticidade, respeitando as verdades dos outros. Começamos a entender o real sentido de equanimidade.
Chave nº 8:
:: Espaço para integrar as emoções ::
Não reprimimos, nem nos tornamos vitimas. Aprendemos a transformar as emoções e a retirar as suas devidas aprendizagens.
Este é um longo ensinamento que envolve 5 etapas.
Chave nº 9
:: Coração de criança ::
Preenchemos o espaço vazio com energia amorosa. Amar sem julgamento, respeitando as escolhas dos outros. Amar sem expectativa, amando mesmo que o outro não me ame.
Amar a partir de um espaço de abundância, para não cair na co-dependência.
Curar as feridas do coração para amar livremente, sem muralhas que fecham o coração.
Muito amor-próprio para cultivar a auto-estima para reconhecermos o nosso valor, potencial e natureza pura - que já é amor.
Chave nº 10
:: Sorrir para o medo ::
Não lutar contra o medo. Aprender a sorrir para o medo para que se torne nosso aliado. São ensinamentos preciosos da Yoguini Tibetana Machig Labdrong.
Chave nº 11:
:: Não negar a vida, nem esta existência ::
Sabedoria não é transcender esta realidade humana, mas sim trazer o sagrado e o divino (o plano mais espiritual) a esta experiência mais limitada.
São 11 as principais chaves e ainda assim um pequeno resumo dos tesouros de mindfulness. Chaves para nos libertarmos de tudo o que nos mais limita e condiciona. Chaves para vivermos com mais consciência, plenitude, integridade e compaixão. Chaves para começarmos a viver o que nos é proposto e assim servirmos mais e melhor o planeta e a humanidade.