Diário
terça-feira 20 de outubro, 2020
Períneo desperto e relaxado
Amo a pélvis feminina e tudo o que ela contém.
O períneo ou chão pélvico é apenas o início de uma bela história de amor.

Se frequentas ou já frequentaste aulas de yoga, pilates ou outras modalidades de exercício possivelmente já ouviste dizer, vezes sem conta, “contrai o períneo”.
Mas sabes o que realmente é e a importância de saber estimular corretamente esta zona na mulher?

O objectivo deste artigo é partilhar apenas um cheirinho deste tema que tanto me apaixona e que muitas vezes é subestimado ou mal aplicado.
Eu própria como professora de yoga, durante muitos anos, também ensinava que devíamos contrair sempre o períneo, não só para evitar problemas de saúde como os prolapsos de órgãos, mas também para fazer subir a energia.

A verdade é que as modalidades de exercício ensinadas nos dias hoje - incluindo o yoga moderno - foram desenhadas pelos e para os homens.
Não têm em conta a anatomia e fisiologia feminina que é completamente distinta da do homem.





Mas que tal começarmos pelo início... onde fica o períneo?
O lar do períneo é a pélvis, espaço que sustem, contém e protege não só o períneo, mas também as vísceras.
É uma área que participa de funções tão importantes como urinar, defecar, sexualidade, prazer e orgasmo, mas também na gravidez, parto e pós-parto da mulher. E na respiração... em toda a nossa vida! :)

Podemos dividir a pélvis em duas zonas: pélvis do abdómen e pélvis do períneo.

A pélvis do períneo compreende um grupo de músculos – uma camada superficial e outra profunda - que pode e deve ser trabalhado e integrado na nossa vida de forma consciente!






A pélvis - ou o cálice pélvico como gosto de chamar – é um portal para o empoderamento e despertar feminino.

Como diz Lesli Howard, “cada pélvis tem uma história. A tua pélvis é a culminação de tudo o que veio antes...”.
A pélvis é como um contentor ou baú interno onde guardamos emoções - vergonha, raiva, emoções não digeridas, tristeza, medo, trauma transgeracional, trauma ancestral. Segundo Alan Finger "ancas e pélvis guardam memórias e traumas inconscientes".
Por isso, não existem duas pélvis iguais... mas acima de tudo há que tomar consciência que a pélvis masculina e feminina são de todo muito diferentes.
E todas as mulheres deveriam saber desde cedo que o períneo feminino não é igual ao períneo masculino. Aliás não só o períneo e toda a pelvis é diferente em termos anatómicos, mas também fisiológicos, hormonais, energéticos e espirituais.
Anatomicamente, nas mulheres, o períneo tem a forma de diamante, uma estrutura bastante mais sensível e flexível que as dos homens, que confere às mulheres um potencial enorme, mas por outro lado são as mulheres que normalmente mais sofrem de problemas.





Porque é importante trabalhar com consciência o períneo?





Quem está mais em risco?





Não há dúvidas que este grupo muscular requer uma atenção especial. Principalmente se o estilo de vida ou as características anatómicas ou fisiológicas favorecem a sua lesão. É o caso, por exemplo, das pessoas que praticam desporto de impacto ou actividades hiperpressivas, pessoas com sobrepeso, prisão de ventre, com tosse crônica ou na "menopausa"... todos estes casos apresentam maior risco de sofrer alterações no chão pélvico e, portanto, devem realizar um treino focado no períneo para neutralizar esses fatores.
O convite é aceitarmos as diferenças e abrirmos-nos à compreensão do corpo fisiológico e anatómico feminino. Investigar, realizar exercícios de fortalecimento e flexibilidade do períneo feminino, tendo em consideração a sua ciclicidade e ritmos.
Há cada vez mais mulheres - e cada vez mais jovens - que sofrem de incontinência (que não é de todo normal), mulheres com o chão pélvico lesionados por falta de cuidado e de tratamento no pós parto, mulheres com períneos tão tensos que têm dificuldade em confiar e relaxar (podes imaginar o impacto na sua sexualidade, fertilidade, sensualidade, feminilidade?)



Como deveria ser a perspetiva feminina de trabalhar o períneo?

Como introdução é fundamental dar-se espaço e tempo para trabalharmos o períneo lentamente, com curiosidade e ternura.
Tempo para conhecer e escutar, desde o relaxamento à ativação.
(será que é assim ensinado nas salas de yoga e de fitness?)

Se ter um períneo frouxo pode ser a causa de imensos problemas... o contrário também é verdade.
Mas qual a mulher que tem um períneo realmente desperto e relaxado?


Proposta Prática

Proponho-te a fechar os olhos e dirigir a tua consciência ao teu períneo...
e agora questiona-te:


* Posso sentir o períneo neste momento? Como o sinto?
* Se o sinto contraído posso relaxá-lo sem empurrar?
* Até onde posso relaxar?
* E se está relaxado, posso ativá-lo? (ísquio-ísquio, púbis-cóccix)
* No triângulo anterior posso mover como uma borboleta? (períneo superficial)
* Posso ativá-lo, desde o interior do canal anal com a intenção de o levar para cima, para a frente e até à púbis? (períneo profundo)
* Posso isolar diferentes zonas do períneo superficial e relaxar/ativar? (períneo superficial da clítoris, uretra, vulva, ânus)
* Posso ativar e relaxar diferentes partes do canal vaginal? (períneo profundo da vagina)

E que tal introduzir estes relaxamentos e ativações durante diferentes movimentos do corpo, mantendo a tua consciência ao estado do teu períneo?
Concedes-te pausas e suspiros?
Permites-te ter espaço e tempo para reconhecer as sensações que vão emergindo a cada momento e a cada movimento?



Mas se o trabalho do períneo é yoga, então não nos podemos esquecer da respiração!

Como está a tua respiração a cada relaxamento ou ativação?
Existe uma sinergia entre o diafragma e o períneo que devemos manter de forma consciente durante os exercícios.
Durante o movimento de expiração o diafragma relaxa-se e é atraído para cima pelo tecido elástico dos pulmões, enquanto que durante o movimento de inspiração se contrai e baixa.
Os movimentos de ativação e relaxamento do períneo podem ir na mesma direção que o movimento do diagrama ou na direção oposta.
Existem diferenças - físico-energéticas - nestas dinâmicas e o mais importante é senti-las para as integrar no corpo.



Depois de se criar espaço-tempo para este trabalho de auto-nutrição e auto-cuidado, deve-se procurar integrar essas experiências no dia a dia, criando-se um ritual individual que recria uma memoria corporal confirmando-se que o corpo e o períneo sabem funcionar sozinhos.

A este trabalho específico do períneo denomina-se Yoni Yoga, sendo que yoni significa Templo Sagrado e não se refere apenas à vagina, mas a todo o períneo e, por vezes, a toda a pélvis.
No Ma-Yoga que eu ensino, o períneo é a base de toda a prática. Por isso, nas aulas de Ma-Yoga introduz-se práticas de Yoni Yoga e um conjunto de movimentos para a integridade pélvica feminina.

Deseja-se um períneo feminino tónico mas flexível; forte mas com habilidade de relaxar; resistente, mas sensual.
Hoje em dia há que tomar consciência, não apenas que a fraqueza e pouca tonicidade muscular do períneo é um grave problema na saúde feminina, mas também que a rigidez e pouca flexibilidade traz consequências nefastas não só para a saúde física, mas também emocional, mental e espiritual da mulher.

E sobre o Pensamento-Emoção profundo relacionado com a frouxidão ou rigidez do períneo falarei noutro artigo... :)



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Cristina Feliciano
Ana embora comece a ter mais consciência da importância de trabalhar a sensibilidade do Cálice Pélvico, confesso que sinto dificuldade em conseguir essa sensibilidade mais subtil nessa área do corpo. É um períneo ainda muito adormecido e considero que as práticas que nos deixas são de facto urgentes para nós Mulheres... Pretendo ser uma verdadeira aprendiz nesta temática, mas até na aplicação do ovo sinto resistência... Quanto à prática que deixas aqui no teu Diário, quando dizes "No triângulo anterior posso mover como uma borboleta? (períneo superficial)", será que te estás a referir aos lábios da Yoni? Gratidão :)
Ana Taboada
Querida Cristina, Grata pela partilha. Se fores à terceira imagem deste artigo verás que o nosso períneo ou chão pélvico tem a forma de um diamante. O triângulo anterior compreende sim toda a vulva, mas como é muito difícil isolar apenas a vulva (os lábios da Yoni), então, em especial para quem nunca fez este tipo de exercícios, é preferível dizer a parte muscular do triângulo anterior. E pela imagem vê-se bem o que compreende: os lábios da yoni, mas também a musculatura à sua volta (o que torna este exercício mais fácil do que dizer contrai apenas a abertura da yoni). Espero que a minha explicação tenha sido esclarecedora. Como já és conhecedora destas práticas, claro que associaste logo aos lábios da Yoni. Sim, poderás isolar e mover apenas os lábios da yoni como as asas duma borboleta, mas isso já uma prática mais avançada. Bom Yoni Yoga :))))
Cristina Feliciano
Foi esclarecedora sim Ana :) Grata!
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